LUIZ MARTINS DA SILVA
Melhor remédio não haverá que o próprio no desuso,
Mas convém guardar divisa do horizonte no convés,
Nunca se sabe o que nos advinham a tinta fresca
E os pingos de vela caindo sobre um velho diário de bordo.
Dormir melhora a antevéspera do dilúvio,
Alguém nos ensinará uma simpatia de esperança:
Receita improvável de alguma poção mágica,
Modo de preparo: salmoura de lágrimas e chuva.
Eu vigiarei os lusco-fuscos intermitentes das borrascas,
Convicto de que algum de nós avistará um vulto,
Uma chispa de relâmpago há de lhe açoitar o rosto,
Sacudir quem semimorto por pouco quase se desgarra do rochedo.
Amo e cultivo a escuridão, misto de reverência e medo,
Pois nada mais entende de luz do que a mãe da noite,
A inferir nas entrelinhas da gramática do perigo
Que a manhã de calmaria virá colar cada um dos nossos ossos rotos.
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