domingo, 6 de dezembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

SARAMAGO E CAIM



FERNANDO HENRIQUE DE PASSOS



Gerou-se um grande chinfrim,
Um alarido danado,
Por causa de um tal Caim,
Livro agora publicado.

O autor, o Saramago,
Odeia a religião.
Quem fala assim não é gago?
Pior que gago, é vilão!

Ataca, fere e insulta
Quem é nosso Criador.
Não há aí uma multa
P’ra tanta raiva e rancor?

Mas Deus, nosso Grande Amigo,
Vai perdoar ao malvado,
Que só terá um “castigo”:
A eternidade a Seu lado.

Nota:Fernando Henrique de Passos é Português da cidade de Queluz , Concelho de Sintra. Matemático, Físico e Poeta , ao lado da escritora e esposa Teresa Passos, admnistra o site Harmonia do Mundo.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

AMIGOS







VINICÍUS DE MORAIS


Eu talvez não tenha muitos amigos.

Mas os que eu tenho são os melhores

que alguém poderia ter.


Além disso tenho sorte,

 porque os amigos que tenho têm muitos

amigos e os dividem comigo.


Assim o meu número de amigos sempre

aumenta, já que eu sempre ganho

amigos dos meus amigos.


Foi assim aqui, uns eu ganhei há tempos,

outros são mais recentes.


E quem os deu não ficou sem eles,

pois a amizade pode sempre ser

dividida sem nunca diminuir

ou enfraquecer.

Pelo contrário, quanto mais dividida,

mais ela aumenta.


E há mais vantagens na amizade:

é uma das poucas coisas que não

custam nada e valem muito,

embora não sejam vendáveis.


Entretanto, é preciso que se cuide um

pouco das amizades. As mais recentes,

por exemplo, precisam de alguns cuidados.

Poucos, é verdade, mas indispensáveis.


É preciso mantê-los com um

certo calor,falar com eles mais

amiúde e no início, com muito jeito.


Com o tempo eles crescem, ficam

fortes e até suportam alguns trancos.


Os mais antigos, já sólidos, não exigem

muito, são como as mudas das plantas,

que depois de enraizadas, parecem

poder viver sem cuidados, porém não

podem jamais ser esquecidas.


Algo é preciso para mantê-las vivas.


Prezo muito minhas amizades e

reservo sempre um canto no

meu peito para elas.


E, sempre que surge a ocasião, também

não perco a oportunidade de dar um

amigo a um amigo, da mesma forma

que eu ganhei vocês.


E não adiantam as despedidas.

De um amigo ninguém se livra fácil.

A amizade além de contagiosa

é totalmente incurável.



Gentilmente enviado por Valdirene Soares

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O PENSADOR




Deparei-me com Agostinho da Silva
Estático, fotográfico, pensativo
Sentado nas pedras que contornavam o rio.
Murmurei pelos fios dos cabelos:
Não te assustes
Às vezes ,
Entro nas paredes e vago nas sombras
Sorvo dos poetas o perfume
Dos filósofos o pensamento
Dos anjos a candura:
Não tenho culpa de tua alma trifásica.
Te vi lá da outra margem do rio e vim.
A tinta manchava o casco do barco e os remos
O vento derramava teus versos nas folhas das árvores.

Agostinho olhava a tarde.
Beijei-lhe o rosto , as mãos áspera de areia e folha.
O silêncio era eco na mudez das pedras
Quando li seus versos.
As palavras batiam nas paredes úmidas
E observei um delicado movimento dos ombros:
Ele ouvia.
Quando findei a leitura
Indicou-me a porta de saída.

Luísa Ataíde

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CELEBRE SEMPRE!


ESCRITO POR REGINA BRETT, 90 ANOS, CLEAVELAND, OHIO.

"Para celebrar o envelhecer, uma vez eu escrevi 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais requisitada que eu já escrevi. Meu taxímetro chegou aos 90 em agosto, então, aqui está a coluna, mais uma vez:
1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3. A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.
4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer. Seus amigos e seus pais vão. Mantenha contato.
5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.
6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para discordar.
7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.
8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele agüenta.
9. Poupe para a aposentadoria, começando com seu primeiro salário.
10. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.
11. Sele a paz com seu passado, para que ele não estrague seu presente.
12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.
14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.
15 Tudo pode mudar num piscar de olhos; mas não se preocupe, Deus nunca pisca.
16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.
17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeroso.
18. O que não te mata, realmente te torna mais forte.
19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz. Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite "não" como resposta.
21. Acenda velas, coloque os lençóis bonitos, use a lingerie elegante. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Se prepare bastante; depois, se deixe levar pela maré...
23. Seja excêntrico agora, não espere ficar velho para usar roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, além de você.
26. Encare cada "chamado" desastre com essas palavras: Em cinco anos, vai importar?
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todos.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.
31. Indepedentemente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.
32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva...
33. Acredite em milagres.
34. Deus te ama por causa de quem Ele é, não pelo que vc fez ou deixou de fazer.
35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela agora.
36. Envelhecer é melhor do que morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância.
38. Tudo o que realmente importa, no final, é que você amou.
39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta.
41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor está por vir.
43. Não importa como vc se sinta, levante, se vista e apareça.
44. Produza.
45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente

Gentilmente enviado por Regina Flores (DF)

sábado, 17 de outubro de 2009

DIUTURNO


Hoje sei que os poetas são outros. Trazem o líquido das esferográficas nas veias
equações insolúveis nos bolsos.
Luísa Ataíde

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NA VIAGEM DA TERRA



O Plano físico é comparável a um mar de inquietações e problemas, coalhado de embarcações, conduzindo passageiros diversos. Do transatlântico de alto nível à piroga mais simples, quase todos eles enfrentam um oceano repleto de perigos: rochedos de incompreensão exigem cautela e entendimento: icebergs de indiferenças provacam o naufrágio de muitos: ondas avassaladoras de ódio espalham desequilíbrio em múltiplas direções: a ventania da discórdia assopra a delinquência, conturbando-lhes o clima espiirtual: de quando a quando, surgem irmãos que enlouqueceram transformando-se em piratas da violência e seres ocultos, nas profundezas das águas, rondam as naves no cotidiano aguardando presas fáceis.
Pelo espírito de Memei.

sábado, 1 de agosto de 2009

DESEJO PRIMEIRO

SÉRGIO JOCKYMANN

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.
Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.
Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.
Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero
.Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matina
lPorque, assim, você se sentirá bem por nada.
Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.
Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você
,Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
Eque se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

sábado, 11 de julho de 2009

LUA DE POETA

Luiz Martins da Silva

Se posso indagar, digo,
De artista p’ra arquiteto,
Subia na sua prancheta
A sábia lua no teto?

Pois vinha ela de longe,
De violas sertanejas,
Antes que Plano e Piloto
Modernizassem belezas.

Por aqui chegando homens,
E tempos depois as mulheres,
Mas já de alguns pioneiros
Comum era olhar luares.

Terra plana, mato seco;
Redemoinho vermelho;
Cinza que agarra a garganta,
Mas cadê no céu a nave?

Tanta ânsia era a de prédio,
Tanta a pressa capital,
E a cidade em vôo leve
Mas sem uma lua no céu.

E a tal cisma de evitar
As cruzes em linhas retas?
Deu no que deu de assentar
Tesouras de curvas perfeitas.

Mas sem ligar para a noite,
Como eterno sendo o dia,
Teria esquecido o arquiteto
A esfera da fantasia?


Ficou assim a cidade,
De antônima geometria:
De dia, a modernidade;
De noite, a lua caipira.



Mas voltando aos instrumentos,
Que vão dos sonhos às formas,
Berram, agora, os sentimentos,
Em rocks roucos, as guitarras.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Às vezes, é necessário a leveza das borboletas e dos pássaros.

L.A

segunda-feira, 4 de maio de 2009

CLARA EVIDÊNCIA




Antes, cumpre esclarecer, havia os dias brancos. Mas o sopro divino sobre dunas de sal , deixava sobre a soleira da porta, como dúzias de rosas cor de berinjela - os intermináveis dias negros. Cumpre ainda esclarecer que os dias não eram seus, mas do filho mais novo. Tal qual equilibrista sob guarda- sol, separava as cordas da bipolaridade. Ora lhe chovia sobre os ombros, ora os raios lhe queimavam as costas. Quando o sol  queimava-lhe as costas, o maior de todos os equilibristas, neste respeitável circo... dançava entre lençóis coloridos. Venham todos ver o maior espetáculo da terra! Flores para a dama ao lado, sorvete e pipoca para todos!
Ah!... O grande mistério do Criador: não havia uma lógica aritmética, sendo assim para dois dias brancos poderia haver dezenas de dias escuros, que poderiam chegar por pacote expresso na entrega das dez , em qualquer dia da semana. Como saber?
Segunda -feira , oito horas. Passa pela cozinha:

_ Bom dia, você já chegou? nem notei...
Não espera a  resposta. Passa de volta quarenta minutos depois.

_ Bom dia, ué você já está aí ? Que bom.!

A empregada ameaça um sorriso.
Meia hora, depois passa de novo pela cozinha.
_ Agora que você chegou, isso são horas,? Eu já te falei que segunda-feira você tem que chegar cedo.
A empregada inspira fundo , observa. A roupa: a saia é verde, a blusa vermelha, o casaco é roxo... e as sandálias... ora não formam um par... estão ...
Soa o alarme. A mulher está parada na porta da cozinha e sorri. Sorri de que mesmo?
Agora é só a ponte em frente. A ponte é estreita e tem muito limo na parte externa, está sobre rio escuro . Uma mulher com uma saia velha e sandálias trocadas, tem no bolso do casaco um relógio parado, está no meio da ponte e porque chove abre a sombrinha.
_Qual o seu nome?
_Ela não lembra Doutor, intervém o marido , amanheceu sem memória.
_ Algum problema em casa?
- O menino mais novo é bipolar. Ela se aborreceu com ele.
- Ah...
Do lado de cá, a estação de rádio funciona em dialeto primitivo. Não há tempo para ensinar a linguagem dos não mudos, não há tempo para traduções. Três estranhos numa sala branca. Uma mesa, uma maca , dois homens e uma mulher. Uma mulher sem nome - páginas e páginas de livro em branco.
_ O nome dela é Clara, ela tem quarenta e cinco anos.
A idade, veneno forte. Mata em dose única. Contra- indicação feminina, elas não se acostumam.
_ As vezes elas não voltam, tive um caso deste mês passado... ela quis ir, se tentou voltar, não sei, sei que não voltou.
_ Ah...
Atenção, a escolha é sua. È só caminhar de volta , bem devagar e a ponte não mais existe. Se o problema é o escuro , aguarde as primeiras horas, não há noite que dure pra sempre. Não desista. Daqui a pouco vai chegar o padeiro:
_ Dona Clara!!!
Você tem um nome, e a casa é esta, antes da ponte. O pão está na mesa e o café quente. A empregada , acredite , chegou antes das oito e fez o café.
Bom dia, sua consulta no dentista é as três.

Luísa Ataíde

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A LUA E O UNICÓRNIO


"Estou consciente de que tudo que sei não posso dizer, só sei pintando ou dizendo sílabas cegas de sentido" Água Viva- Clarice Lispector


Escudo
Entre a casa e a rua em suave declive está o fosso em água escura.
Nas noites mornas a lua sombreia o unicórnio sobre a colina.
Ele olha a rua , a casa e o vento que move suavemente as folhas.
A lanterna aponta inadvertidamente o azul do céu.
Qual lobo rondando planice
Observa o movimento da água.
Domínio
Sob a água, observa o réptil o céu clareado de lua.
Vê o animal e seu dorso branco.
Solta excrementos adicionando-os à fetidez da água.
Circula a casa, bebe o líquido que o cerca
Suas lanternas apontam inadvertidamente o céu escuro.
Encontro
O animal sobre a colina, tece asas e sobrevoa o fosso.
O réptil ergue o corpo e arreganha os dentes.
O Unicórnio abre as asas e em suave compasso retorna à colina.

Espera.

L.A

sábado, 18 de abril de 2009

ANTIDEDICATÓRIA

Imagem - Jerry Uelsmann ( http://www.uelsmann.com/)


Luiz Martins da Silva


Há dias de perceber
Do quanto moídos fomos
Apenas areia no ralo.


Há dias em que, de fato
O que seria alimento
É só resíduo no prato.


Há dias sobrando pranto
Esses em que o girassol
É só o sol sem encanto.


Há dias de muitas sombras
Terríveis são as penumbras
De atmosferas netunas.


Há dias sem literatura
Em que o melhor estilo
É o coração trajando luto.


Há dias sem espetáculo
E todo o circo deserto
E a sua cara na vaia, palhaço.


Há dias em que o oceano
É só uma lágrima distante
Numa eternidade fria.


Há dias em que o sorriso
É só o eco de um vento
Inócuo, opaco, sem folhas.


Há dias de se re-voltar
Contra toda a sem-poesia
Que nos mantém numa bolha.


Há dias de se dizer: “Moço!
--E de se ouvir no fundo, do fundo...
--Sai desse troço!”.


terça-feira, 14 de abril de 2009

PERFIL- ANA PAES ( 1615-1674)




O ENGENHO DA CASA FORTE




"Ana Paes Gonsalves de Azevedo , nasceu no maior engenho da Várzea do Capibaribe- O Engenho da Casa forte. Filha de pais portugueses nobres e ricos, a sua notória formosura de pele alva, cabelos escuros e abundantes, enormes olhos cor de violeta, era acrescida pela altura, esbelteza e elegância de postura e gestos.
Aos 18 anos era viúva de Pedro Correia da Silva e com a morte do pai passou a administrar o engenho com firmeza e determinação mantendo-o entre os dez melhores de Pernambuco. Para se atualizar nos preços do açúcar, no comercio exterior, da cabotagem e outros misteres, competia com os homens donos de engenho, mercadores e corretores, freqüentando a praça e o mercado.
Uma mulher bem avançada para a época, destemida e resoluta. Falava e escrevia além do português, o latim por ser a língua na época utilizada no mundo civilizado e culto e mais tarde o alemão aprendido nos seus sucessivos casamentos e no convívio com os flamencos.
Foi educada nos princípios e à moda portuguesa, vivendo com sua mãe no engenho e na casa da Rua Bom Jesus, uma grande e aprazível chácara. Existem duas cartas escritas por ela. Uma dirigida ao conde de Nassau, oferecendo açúcar do seu engenho, da qual existe uma cópia no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Outro, dirigida ao Conselho da Zelândia, pedindo a liberdade do marido Charles de Tourlon, em agosto de 1637.
Enamorou-se pela figura amável, inteligente e galante do príncipe de Nassau, até encontrar André Vidal de Negreiros por quem teve uma irresistível e conturbada atração. Devido a intrigas, separam-se. Ela mudou de religião e adotou o protestantismo para se casar com o comandante da guarda pessoal de Nassau, Charles de Tourlon, em Recife, no ano de 1637. Deste casamento teve uma filha, Isabel de Tourlon, que viria a se casar na Holanda com Viglio Gaspar Kroyestein, Oficial da Infantaria do exército holandês.
Casa-se pela terceira vez no final da Batalha dos Guararapes, em 1645, devido a confirmação da morte de Charles de Tourlon na Holanda, com Gilbert de W , com quem já vivia. Ele era Conselheiro de Justiça do governo holandês, conforme consta na assinatura do documento de capitulação.
Por ser casada com holandês foi considerada holandesa e conseqüentemente recebeu as regalias concedidas pelo General Francisco Barreto de Meneses, no ato da rendição, documento de capitulação dos batavos vencidos.
Tendo perdido todos os seus bens imóveis, embarca para Holanda na nau Vos (Raposa), na companhia do marido e dois filhos, Cornelius e Elizabeth, no final da invasão em 1654.
Seu engenho confiscado foi colocado em leilão e arrematado em hasta pública pela família do Padre Roma, o qual, ao tomar posse do Engenho Casa Forte, mandou destruir a Casa Grande.
Nos seus escombros foram encontradas vigas calcinadas, provocadas pelo incêndio ateado pelo exército luso-brasileiro por ocasião da Batalha de Casa Forte. Hoje, deste engenho resta apenas o antigo pátio - atual Praça de Casa Forte, agora um jardim com lago e vitórias-régia, o primeiro criado por Burle Max, nosso grande paisagista. E no lugar da antiga capela, ergue-se hoje a matriz de Casa Forte. Nesta igreja, logo na entrada, a esquerda, existe uma placa aposta em 1995, confirmando ser o engenho Casa Forte o local da batalha de 17 de agosto de 1645. Esta placa foi aí colocada em comemoração aos 350 anos do heróico feito.
No livro de batismo da igreja holandesa, consta em 1643 o nome de Izabel Tourlon; em 1647 de Cornelius  e em 1650 o nome de Elizabeth . O registro dos três filhos de Anna Paes dentro da religião calvinista.
Mais tarde, em 1693, no Tratado de Transação contra o reino de Portugal os herdeiros de Anna Paes, ganham a ação de indenização movida por eles, em ressarcimento dos bens deixados no Brasil por seus pais.
Ao contrário do enfoque dado a Anna Paes por alguns historiadores que a julgaram uma mulher dissoluta, amoral e considerando que o Brasil não era ainda "A Pátria", Anna Paes foi antes de tudo uma mulher jovem, carente de amor, depois, uma mulher apaixonada, poucas vezes vingativa, inteligente e arguta por ter sabido aproveitar o momento, se colocando ao lado dos holandeses, que faziam na sua visão, progredir a terra natal."

Fonte : Fundação Joaquim Nabuco
Nota do Blog- No trato de transação aonde lê-se Ana Paes Autero, leia-se Ana Paes D'Altro. Óleo sobre tela. - Frans Post, Pintor Holandês
,
Nota: Romancistas, biógrafos e historiadores retratam uma personalidade ora doce como qualquer sinhazinha da época, ora forte e determinada.  Ana dedicava-se a leitura e ao comércio açucareiro  numa época em que as mulheres apenas bordavam e rezavam. Encantou-se pelos gestos europeus do Príncipe Nassau mas recuou de levar adiante a aventura quando conheceu André Vidal de Negreiros, que seu coração dizia ser o companheiro para toda a vida. O curto romance naufraga e as armadilhas do destino ferem-lhe o orgulho e fazem da moça encantadora uma mulher que não mede esforços em se vingar de Negreiros. Neste ponto dividem-se os biógrafos sobre o caráter de Ana Paes. Casa-se às pressas com Charles Tourlon por conveniência. Quando Charles retorna à Holanda leva a filha Isabel consigo. Ana só a reencontra muitos anos depois em Terras européias quando já casada com  Gilbert De W. é obrigada a deixar o Brasil.  Ana Vai viver em Dordrecht-Holanda e posteriormente em Haia , onde vem a falecer em 1674. A Batalha de Casa Forte, será sempre lembrada como um episódio marcante contra a resistência flamenca na história de Recife. Uma mulher criada dentro das tradições portuguesas que se aliou aos holandeses com certeza estremeceu ao ver o sangue dos derrotados escorrendo pelas paredes da casa. Antes de ser anjo ou demônio Ana Paes foi uma mulher de personalidade e um senso de justiça admiráveis . Apenas uma mulher escrevendo sua estória com erros , acertos e lágrimas. Como finaliza Telma B. Vasconcellos em "Dona Anna Paes"- Simplesmente , Anna.

L.A

domingo, 12 de abril de 2009


" O místico Yogananda disse que a vida é como uma longa corrente dourada flutuando nas profundezas de um oceano que só pode ser içada para se examinar um elo de cada vez, enquanto o resto reluz fascinante e inalcansável debaixo d'água. O que sabemos atualmente sobre a morte, a vida e a alma é provavelmente apenas um elo dessa corrente. À medida que integramos nossa dor ao crescimento, somos cada vez mais capazes de trazer para a luz essa corrente dourada de alegria e sabedoria do oceano do ser."
Brian Weiss- A Cura através da terapia de VIDAS PASSADAS, p. 79, Editora Sextante

quinta-feira, 9 de abril de 2009


Pintura e texto de Steven Kenny

Nós seres humanos estão inclinados a esquecer ou ignorar os princípios da existência. Eles incluem: todas as ações que mudam o ambiente, uma mudança inevitável, um imobilismo antinatural, o tempo como influência e a concepção como início de morte bem como da vida, e muitos outros. Nosso desafio é o de aceitar humildemente o que nos deu a Natureza e viver para definir as lições que temos diante de nós, sem impor a nossa vontade arrogante sobre o planeta.
Como seres humanos mais plenos abraçamos a tecnologia e sentimos um crescente sentimento de ansiedade, desorientação e medo. Para compensar, o nosso desejo de previsibilidade e ordem inflama-nos uma voraz fome de controle que induz-nos a força para renunciar aos segredos da Natureza. Quando esta nos fornece algo pleno, para nós é visto como "falso", insuficiente, e necessitando de uma melhora. Manipulamos o nosso meio, em uma tentativa de gerenciar tempo, eliminar mudanças imprevistas, e estabelecer uma permanente sensação de estabilidade. Tentamos ir à uma leva de suprimentos para cercar-nos com psicológico, físico, espiritual, social, cultural o ambiente que esperamos que finalmente nos satisfaça. O resultado é uma existência cada vez mais artificial. Tento combinar detalhado realismo, surrealismo, simbolismo e transmitir a linguagem universal da Natureza , como entendo. Eu visualmente combino figura humana, plantas, animais e todas as outras formas de matéria natural em quadros vivos. Estes cenários estão presentes em nossa existência, quer do ambiente harmonioso ou complicado por humanos contraditórios. Minhas pinturas servem como um lembrete para mim mesmo, e talvez a outros, que toda a vida na Terra é apenas um único organismo. O mundo que me mostram está numa interdependência onde as hierarquias desabarão.
Tradução - L.A

sábado, 21 de março de 2009

DEFICIÊNCIAS


Texto de Mário Quintana ( 1906- 1994)

‘Deficiente’ é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino. ‘Louco’ é quem não procura ser feliz com o que possui. ‘Cego’ é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. ‘Surdo’ é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. ‘Mudo’ é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. ‘Paralítico’ é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. ‘Diabético’ é quem não consegue ser doce. ‘Anão’ é quem não sabe deixar o amor crescer. E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: ‘Miseráveis’ são todos que não conseguem falar com Deus.
“ A amizade é um amor que nunca morre. ”
Gentimente enviado por Maríla Campos

terça-feira, 10 de março de 2009

FANATISMO

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
Tudo no mundo é frágil, tudo passa..."
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, vivo de rastros:"
Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!..
Florbela Espanca

quarta-feira, 4 de março de 2009

ESCUTATÓRIA

( Texto de Rubens Alves)

Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir.Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil.Diz o Alberto Caeiro que "não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma". Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas. Aí a gente que não é cego abre os olhos. Diante de nós, fora da cabeça, nos campos e matas, estão as árvores e as flores. Ver é colocar dentro da cabeça aquilo que existe fora. O cego não vê porque as janelas dele estão fechadas. O que está fora não consegue entrar. A gente não é cego. As árvores e as flores entram. Mas - coitadinhas delas - entram e caem num mar de idéias. São misturadas nas palavras da filosofia que mora em nós. Perdem a sua simplicidade de existir. Ficam outras coisas. Então, o que vemos não são as árvores e as flores. Para se ver é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro: "Não é bastante ter ouvidos para se ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma". Daí a dificuldade: a gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor, sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer. Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração e precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor. No fundo somos todos iguais às duas mulheres do ônibus. Certo estava Lichtenberg - citado por Murilo Mendes: "Há quem não ouça até que lhe cortem as orelhas". Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil da nossa arrogância e vaidade: no fundo, somos os mais bonitos...
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos, estimulado pela revolução de 64. Pastor protestante (não "evangélico"), foi trabalhar num programa educacional da Igreja Presbiteriana USA, voltado para minorias. Contou-me de sua experiência com os índios. As reuniões são estranhas. Reunidos os participantes, ninguém fala. Há um longo, longo silêncio. (Os pianistas, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio, como se estivessem orando. Não rezando. Reza é falatório para não ouvir. Orando. Abrindo vazios de silêncio. Expulsando todas as idéias estranhas. Também para se tocar piano é preciso não ter filosofia nenhuma). Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial. Aí, de repente, alguém fala. Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio. Falar logo em seguida seria um grande desrespeito. Pois o outro falou os seus pensamentos, pensamentos que julgava essenciais. Sendo dele, os pensamentos não são meus. São-me estranhos. Comida que é preciso digerir. Digerir leva tempo. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se falo logo a seguir são duas as possibilidades. Primeira: "Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava eu pensava nas coisas que eu iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado". Segunda: "Ouvi o que você falou. Mas isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou". Em ambos os casos estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada. O longo silêncio quer dizer: "Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou". E assim vai a reunião.
Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em U definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: Meus irmãos, vamos cantar o hino... Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar.A música acontece no silêncio.É preciso que todos os ruídos cessem.No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa.No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também.

(Gentilmente enviado por Keila Abreu)

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O LADO LÚDICO DA ALMA

óleo sobre tela- Pierrot, Pablo Picasso
Volta sempre, brincalhão,
O tal espírito da festa.
Qualquer bobo fica sábio
E o sábio volta a ser besta.

Vira e mexe, qualquer coisa
-- Pretexto de fantasia --,
Vira-se a alma do avesso,
Despida, entregue à folia.

Máscara da irreverência,
Que é singular e plural:
Carnavais não voltam mais,
Mas o que é ritual volta sempre.

Sua poética é do absurdo,
Sua lógica é devaneio.
É um reinado muito curto,
Mas, diga Momo ao que veio!

Na quarta-feira de cinzas,
Tudo de volta ao normal,
Mas fica a chama guardada
Para o próximo Carnaval.
LUIZ MARTINS DA SILVA

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MENSAGEM


Viver, como se fosse o último dia...
Trabalhar, como se fosse para Deus...
Gostar de todos, como se fosse amor...
Libertar-se, como se estivéssemos no fim de todas as dores.
Olhar tudo como se fosse obra de arte.
Caminhar, como se estivéssemos nas nuvens.
Abraçar a todos, como se fossem nossos filhos.
Perdoar, como se nunca tivéssemos sido ofendidos.
Desapegar, como se não tivéssemos mãos.
Cooperar, como se não houvesse luta.
Sorrir, como se tudo fosse uma brincadeira.
Recomeçar, como se fosse a última chance.
Em qualquer ação, o importante é fazê-la com classe, como se fosse pela primeira vez, consciente de que o tempo não volta e que tudo é para sempre


Luiz Antonio Gasparetto( um homem bom)

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

QUANDO O REMÉDIO É ESCREVER ( efeitos terapêuticos dos blogs)


A busca por uma vida mais saudável pode ser um dos motivos do enorme aumento do número de blogs. Estima-se que sejam cerca de 3 milhões por todo o planeta. Cientistas e escritores há anos conhecem os benefícios terapêuticos de escrever sobre experiências pessoais, pensamentos e sentimentos. Mas, além de servir como um mecanismo para aliviar o stress, expressar-se por meio da escrita traz muitos benefícios fisiológicos. Pesquisas mostram que com a prática da escrita é possível aprimorar a memória e o sono, estimular a atividade dos leucócitos e reduzir a carga viral de pacientes com aids e até mesmo acelerar a cicatrização após uma cirurgia. Um estudo publicado na revista científica Oncologist mostra que pessoas com câncer que escreviam para relatar seus sentimentos logo depois, se sentiam muito melhor, tanto mental quanto fisicamente, em comparação a pacientes que não se deram a esse trabalho.
Pesquisadores empenham-se agora em expl orar as bases neurológicas em jogo, especialmente levando em conta a explosão dos blogs. De acordo com a neurocientista Alice Flaherty, da Universidade Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, a teoria do placebo para o sofrimento pode ser aplicada a esse caso. Como criaturas sociais, recorremos a uma variedade de comportamentos relacionados à dor. A reclamação, por exemplo, funciona como um "placebo para conseguir satisfação", afirma Flaherty. Usar o blog para "botar a boca no mundo", expressar insatisfações e partilhar experiências estressantes pode funcionar da mesma forma.
Flaherty, que estuda casos como a hipergrafia (desejo incontrolável de escrever) e também o bloqueio criativo, analisa modelos de doenças que explicam a motivação por trás dessa forma de comunicação. Por exemplo, as pessoas em estado de mania (pólo oposto à depressão, característico do transtorno bipolar) geralmente falam demais. "Acreditamos que algo no sistema lâ­mbico do cérebro fomente a necessidade de a pessoa se comunicar", explica Flaherty. Localizada principalmente no centro do cérebro, essa área controla motivações e impulsos relacionados a comida, sexo, desejo e iniciativa para resolução de problemas. "Sabemos que há impulsos envolvidos na criação de blogs, pois muitas pessoas agem de forma compulsiva em relação a eles. Além disso, o hábito de mantê-los atualizados pode desencadear a liberação de dopamina, os estímulos são similares aos que temos quando escutamos música, corremos ou apreciamos uma obra de arte", diz Flaherty.
Os lóbulos frontal e temporal, que controlam a fala (centro dedicado à escrita está diretamente conectado ao cérebro), talvez tenham, também, um papel importante nesse processo. Lesões na área de Wernicke, localizada no lóbulo temporal esquerdo, por exemplo, resultam em fala excessiva e perda da compreensão da linguagem. Pessoas com afasia de Wernicke apresentam linguagem inarticulada e é comum escreverem constantemente. Tendo em vista essas características, Flaherty especula que alguma atividade nessa área poderia estimular o desejo de criar blogs.
Cientistas reconhecem, porém, que a neurobiologia da escrita terapêutica ainda apresenta muitos pontos obscuros. As tentativas de retratar o cérebro antes e depois de escrever renderam poucas informações, pois as regiões ativas estão localizadas em áreas muito profundas do sistema cerebral. "Estudos recentes com ressonância magnética funcional demonstraram que o cérebro trabalha de forma diferente antes, durante e depois de escrever", observa o psicólogo James Pennebaker, da Universidade do Texas, em Austin. Mas o pesquisador e vários de seus colegas ainda são céticos quanto ao valor dessas imagens, pois são difíceis de reproduzir e quantificar.
O que se sabe é que a escrita ativa um conjunto de vias neurológicas - e vários estudiosos estão comprometidos em descobri-las. Na Universidade do Arizona, o psicólogo e neurocientista Richard Lane usa técnicas de imagem cerebral para estudar a neuroanatomia das emoções e a forma como elas são expressas. Nancy Morgan, principal autora do estudo publicado na Oncologist, pretende realizar novos estudos baseados na comunidade e ensaios clínicos sobre a escrita expressiva. Pennebaker continua a investigar a ligação entre a escrita expressiva e alterações biológicas, como uma melhor noite de sono, que são essenciais à saúde. "Acredito que o foco no sono é um dos mais promissores", diz. Sejam lá quais forem as causas subjacentes, as pessoas diagnosticadas com câncer e com outras doenças graves estão buscando (e encontrando) cada vez mais conforto na blogosfera. "Sem dúvida criar blogs traz benefícios. E, diferentemente de um diário de cabeceira, os blogs oferecem o benefício adicional de atrair leitores receptivos, que viveram situações similares", considera Morgan, que planeja incorporar programas de redação ao programa preventivo para pacientes de câncer.

( Artigo de Jéssica Wapner)
Gentimente enviado por KEILA ABREU

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