Santa Teresa de Jesus
Há dias que caminhar é só um passo após o outro e o vento tem a docilidade de beijar-nos a face, e sabemos ser verdadeiramente parte da criação. Outros há que não caminhamos, ficamos presos no vale de lágrimas, no abismo de angústias. Nestes dias, damos as mãos aos pensamentos turvos da culpa e do abandono. Lá fora, o sol nasce sempre, as estrelas cintilam seus diademas de brilhantes e o vento, como menino solto, corre nas praças e jardins. Nós nada vemos, pois o pensamento conduz-nos cada vez mais ao isolamento cômodo da lamentação.
As energias revigoradoras do planeta são espalhadas diuturnamente, pois a espiritualidade maior não nos esquece nunca. São fontes de sustentação para os momentos difíceis em que caminhar é um ato surpreendente, pois nossas descobertas e aprendizados são quase sempre através da dor. Todos nós domamos todos os dias um dragão interior. Não nos enganemos, o dragão do que cruza conosco a avenida, parece adormecido, mas ruge alto e o assusta tanto quanto o nosso, só ele o conhece. A boa sintonia mental abre todas as janelas e nos mantém fortes aos tropeços naturais do ato de viver. O bom pensamento conduz-nos as altas esferas celestiais, lá onde a bondade reina, em que seres criados simples, como nós, partilham da grandeza do amor do Pai, face a face. A oração traduz-se na vigília do bom pensamento em todos os momentos do dia. Por sermos seres em aprendizado, nosso pensamento salta dos acordes mais altos aos arranhões sonoros das escalas inferiores. O exercício necessário de orquestramos nossas vidas, faz-se então presente. O predomínio dos belos acordes, tendo ao fundo pequenos ruídos, será a melodia que nos levará em frente. Se o predomínio for inverso, isolamo-nos do mundo, e quedamos ao sentimento de abandono. Se não é possível a oração contínua que seja o bom pensamento o condutor presente em cada minuto. Se um homem vigia seus pensamentos, ele ora. Se uma comunidade vigia seus pensamentos, também ora. Imagine uma cidade, um país, o planeta em busca da Harmonia do Mundo.
Luísa Ataíde