Luiz Martins da Silva
I
De letra em letra, uma linha;
De linha em linha, uma
quadra;
De quadra em quadra, caminha
A vida bem ladrilhada.
II
Ser poeta é quase tino,
Lida de escrever, fado.
E quem lê tal desatino,
Por certo ganha o que é dado.
III
E se a sorte, num presságio,
Avisa, mora bem perto,
Fortuna há pouco invisível.
Tesouro, agora, entreaberto.
IV
Triste alegria a do verso:
Sincero, fagueiro, carinho.
Chora a criança no berço;
Ri, no adeus, o velhinho.
V
Nem tudo na vida é festa,
Mas, de festa a vida é farta.
Com festa é que a vida
presta,
A vida sem festa é farsa.
VI
Não que do vinho não venha,
Como dizia o ditado,
Verdade que se contenha,
Senão, mentir é verdade.
VII
Ilusão que se definha,
Bem cedo, a vida se gasta.
Quem é sábio não se engana,
Boa sina é a vida modesta.