sábado, 18 de abril de 2009

ANTIDEDICATÓRIA

Imagem - Jerry Uelsmann ( http://www.uelsmann.com/)


Luiz Martins da Silva


Há dias de perceber
Do quanto moídos fomos
Apenas areia no ralo.


Há dias em que, de fato
O que seria alimento
É só resíduo no prato.


Há dias sobrando pranto
Esses em que o girassol
É só o sol sem encanto.


Há dias de muitas sombras
Terríveis são as penumbras
De atmosferas netunas.


Há dias sem literatura
Em que o melhor estilo
É o coração trajando luto.


Há dias sem espetáculo
E todo o circo deserto
E a sua cara na vaia, palhaço.


Há dias em que o oceano
É só uma lágrima distante
Numa eternidade fria.


Há dias em que o sorriso
É só o eco de um vento
Inócuo, opaco, sem folhas.


Há dias de se re-voltar
Contra toda a sem-poesia
Que nos mantém numa bolha.


Há dias de se dizer: “Moço!
--E de se ouvir no fundo, do fundo...
--Sai desse troço!”.


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