Luiz Martins da Silva
Há dias de perceber
Do quanto moídos fomos
Apenas areia no ralo.
Há dias em que, de fato
O que seria alimento
É só resíduo no prato.
Há dias sobrando pranto
Esses em que o girassol
É só o sol sem encanto.
Há dias de muitas sombras
Terríveis são as penumbras
De atmosferas netunas.
Há dias sem literatura
Em que o melhor estilo
É o coração trajando luto.
Há dias sem espetáculo
E todo o circo deserto
E a sua cara na vaia, palhaço.
Há dias em que o oceano
É só uma lágrima distante
Numa eternidade fria.
Há dias em que o sorriso
É só o eco de um vento
Inócuo, opaco, sem folhas.
Há dias de se re-voltar
Contra toda a sem-poesia
Que nos mantém numa bolha.
Há dias de se dizer: “Moço!
--E de se ouvir no fundo, do fundo...
--Sai desse troço!”.
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