quinta-feira, 12 de abril de 2012

O SOLITÁRIO DE SÃO MIGUEL DE SEIDE(trecho)






FREDERICO LINS

Cresce no íntimo de cada pensador, e todos eles são introspectivos, essa confusão de sentimento, esse spleen desanimador, essa melancolia depressiva e fatal, levando-os aos transportes que derrama, com sinceridade, nas suas cartas, nas missivas que remete, com esperanças de consolaçao, aos íntimos compreensivos. Rui Barbosa, seco , na forma de vida austera, dedicada ao Direito e ao Brasil, foi um emotivo e um sentimental nas suas cartas. Machado de Assis, o enigma da nossa literatura, também o foi, Mas Castello Branco, com um volume literário superior a todos eles, não tem elementos, nesse sentido, que esclareçam a irrequietude de seu espirito fecundo, que lançem uma luz sobre sua paixão, a iluminarem a sua existência tão cheia de dores e trabalhos repetidos. Os bancos de Coimbra, a Maria da Fonte, as ruas de Lisboa, os cárceres da Relação do Porto, nada disto fez viver suas cartas, com raras alusões, como a maioria dos pensadores do seu tempo. Dostoiévski recalcou sua dor na Sibéria, para retratá-la como nenhum outro, nos seus rompantes geniais. Parece que um estranho destino marca certos e determinados homens superiores. Camilo foi assim, introspectivo e recalcado intimamente com as injustiças sofridas, a terminar no seu desvairio. Sem essas válvula de escoamento que são as cartas, muitas cartas. Antero de Quental, alucinado, cortou a existência em plena vibração lírica. Gerard de Nerval foi outro desgraçado , com a mente envolvida por um misticismo oriental com origem remota na sua formação psicológica, a procurar no silêncio o descanço eterno. Euclides da Cunha, que só escrevia, na força do estilo mais puro da literatura brasileiro, imprecando, atirou-se à voragem de um ciúme tardio, a encontar, de passagem, a bala de Dilermando de Assis. E os casos se sucedem em torno desses infelizes, imersos em sombras grandiosas, com suas vidas a seguirem uma estrada luminosa, mas cheia de percalços cruéis, imortal, mas com alcantis perigossíssimos. Poucos são os que a vencem em toda a sua extensão. São sonhos maravilhosos de crença interior. Quando despertam, como Põe, procuram a morte no esquecimento do vício; como Wilde, na degradação do nome; como Hermes Fontes, na bala do seu revólver. O álcool, a dor e o revólver são pontos finais terríveis.
Camilo despertou cego!

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